Crónica de Jorge C Ferreira
Um mar enorme
Há quem a procure e não saiba quem ela é. Acham que vão encontrar o farol que lhes indicará o caminho único para a alegria. Marés, mares revoltos, ondas alterosas e ele lá vai. Há também uma estrela que é a estrela que marca o sentido da vida. Será esse o caminho certo?
A lava escorre numa terra que eu adoro. Sulcos, estradas de fogo que, em breve, serão pedra. A ilha de todas as ilhas. Quando avistei pela primeira vez a Islândia as lágrimas brotaram dos meus olhos. Estava sentado na varanda do meu camarote. Levantei-me e registei o momento. Momento que ainda hoje tenho gravado na minha memória. O ansiado encontro. Andamos de mãos dadas até hoje.
Aquela gente branca. Um branco que não é pálido. Um branco que sabe a vida. Branco neve. Branco natureza. As ruas que correm para o mar. Lojas únicas. Pessoas únicas. A Lagoa Azul, e o atrevimento do calor daquela água. Um modo de viver que mexe connosco em cada passo que damos. Os bares e os restaurantes quentes e aconchegantes. O ser bem servido, sentir que estamos em casa.
Sempre apreciei a diferença. O orgulho de ser como somos. A coragem de assumir a vida. O dia e a noite. Dar a volta à ilha. Ver o Norte onde o sol continuava a teimar em ficar vivo. Cidades pequenas. Todos com todos. Um viver que na nossa terra começa a ficar estranho.
A arte de ser artista. As cores que o frio constrói. Nossa liberdade desenhada em telas, o desvario dos bordados nas janelas. O orgulho dos seus. Uma livraria cheia de livros do seu Nobel da literatura, Haldôr Lexness, em islandês, em inglês, não me recordo se em mais línguas. Gostarmos de nós é o primeiro passo para vencer as adversidades. Bem basta o que basta!
E ela? Como a vamos buscar? Seguimos a estrela, ou procuramos a luz de um farol. Os seus enormes olhos tinham uma luz única que também podia ser o sinal necessário. Tínhamos de escolher. Decidir. Também podiam esperar que ela aparecesse no cume de uma montanha. Montanhas que, por vezes cospem fogo. Uma inquietação tremenda. Procurar o loiro, num cabelo esbranquiçado. Há quanto tempo andamos nesta procura?
O tempo que passa e faz cansar. Cansados resistimos e continuamos a gostar no belo que existe no mundo. Estar numa esplanada a ver a diversidade a passar. Conversar com o mundo. As línguas, cada vez mais estranhas e lá nos vamos entendendo; e ela continua sem aparecer. Será que já estamos noutra dimensão? Para onde nos levará este mar? Ou será que estamos a navegar num círculo perfeito onde não existe ninguém? Será que chegámos a um mar sem terra?
Um marinheiro ajoelha e pede: Aparece, aparece, é o tempo. Algum tempo depois ouve-se um grito do cesto da gávea: Terra à vista, terra à vista! No cimo do pico da montanha, lá estava ela. Os olhos inconfundíveis. Será ela?
«Para esses lugares não me levas tu. Livra!»
Fala de Isaurinda.
«Tu, que nasceste na Ilha do Fogo, a dizeres isso!»
Respondo.
«A minha terra conheço-a palmo a palmo. Agora esses lugares de que tu falas ou inventas!»
De novo Isaurinda e vai, um ar desconfiado.
Jorge C Ferreira Janeiro/2024(420)
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Há sempre uma desculpa para qualquer falta, o que não quer dizer falha… O meu tempo apoderou -se do quero e como quero que seja. Não falhei porque lembrar é como a memória ainda me pertence. As segundas feiras não as esqueço, posso faltar mas a presença mesmo que possa falhar está presente. Li como sempre, e como sempre não me surpreende as vivências e a vida que lhe foi predestinada, continue a escrevinhar memórias, viagens, rostos, alegrias e mistérios, navegue por essas palavras como capitão das suas muitas vidas. Abraço!
Obrigado Cecília. Sempre a tempo. Sempre presente. A vida é uma aventura. A minha gratidão. Abraço minha Amiga.
Uma das terras da minha lista de desejos, a Islândia é um amor platónico distante. Um sonho por viver.
Bom fim de semana, amigo.
Beijinhos.
Obrigado Sofia. Vais adorar. Vais sonhar acordada. A minha gratidão por estares aqui. Beijinhos.
A Estrela, levou-o ao lugar perfeito, o mar que o rodeava e à ilha que o deslumbrou.
Um lugar mágico, de um branco puro e belo. Uma tela que tão bem desenhou, com a beleza das suas gentis palavras. Do ser e do conhecer. Sensibilidade, sempre.
Como é bom lembrar tanta beleza e não esquecer pessoas únicas, que com carinho recorda.
Tanto gelo, mas tanta gente de coração quente.
Amei a sua crónica e agradeço a viagem.
Grata, meu poeta. Abraço imenso.
Obrigado, Maria Luiza, minha Amiga. Tão belo e delicado o seu comentário. Que maravlhoso estar aqui. A minha imensa gratidão. Beijinho
A incessante procura da luz quando, muitas das vezes, temos o interruptor dentro de nós. Basta carregar mas esperamos sempre que haja alguém a fazê-lo por nós.
“Gostarmos de nós é o primeiro passo para vencer as adversidades.”
Adorei a tua crónica!
Não conheço a Islândia mas a minha filha andou por lá com uns amigos há uns anos e enviou-me imagens lindíssimas.
“Um mar enorme” foi começar o novo ano com beleza!
Obrigado Maria. Adoro o teu comentário. Um rrxto belíssimo. É tão gratificante ler os tes comentários. Eternamente grato por tudo. Abraço grande.
Sublime. Faro l ou estrela. Os dois no horizonte. A luz que nos guia.
Uma viagem de sonho. Pareceu-me entrar numa grande galeria de arte. Personagens que saiam das telas, esculturas com vida própria. Todos eram um só.
A terra tremeu e a lava incandescente deslizava pela montanha. A Natureza que nos deslumbra.
As memórias que nos fazem viver.
O farol ou a estrela.
Obrigada Amigo por tão bela viagem.
Um abraço.
Obrigado Eulália. Excelente o seu comentário. Todos procuramos uma luz que nos ilumine. Que bom estar aqui. A minha gratidão. Abraço
A ilha de todas as ilhas.
O branco que dá cor a todos as
paisagens, gentes e rodas da vida.
A viagem que corre nas veias e aquece o sangue da alma de tão gelada que é.
O lugar que abastece a memória e
que se alastra tempo fora.
Essa deusa alva que te recebeu de braços abertos e um contentamento contente.
O aveludado das palavras que nos
ofereces e a delicadeza dos itenerários que contigo
percorremos.
Sonhos perfeitos.
Inspirações ansiadas.
Ilhas incomuns e mágicas.
Bem hajas, meu cronista de luz!
Obrigado Mena. Mais um belo poema. Prenda minha, voz tua. É sempre com imensa alegria que leio o que escreves. Já não sei como te agradecer. Abraço enorme
O cronista regressa a um tema recorrente: os lugares. Sempre neles inscritas as pessoas que os habitam. Uma viagem que nos conta maravilhosamente. Deliciamo-nos. As palavras são imagens pictóricas com som. Talvez do mar. Dos mares ( elemento essencial para si).
O texto revela o deslumbramento do autor por um lugar único. Muito especial. Muito próprio. Diria que um pouco dele se construiu nesse espaço ( para além de físico é mental) e por isso nele se consegue dizer, captar. Responder-me-ia: ” ser parte “. Claro! Há um sentimento de pertença àquele lugar, àquele modo de ser e estar. Por isso, são morada em si. Numa internalização identitária.
Um texto que descreve, mas indaga. Interroga através do sítio ( e da imensidão do mar, ” mares”, marés, fenómeno e símbolo nos seus escritos) o sentido. Um singular que denuncia o seu plural. A procura incansável pelo fim último das ” coisas “, numa pesquisa interior a revelar o ser em-contradição. E em liberdade ( estética, ética, gnosiológica). Desassossegado.
Viajamos nesta crónica com o poeta pelo lugar, mas principalmente apropriamo-nos das suas ” deambulações ” e sonhamos com ele. Não necessariamente o mesmo sonho, mas fantasiamos ( na ” diferença ” , na proximidade). Recordamo-nos da ” Cegueira “, da ” A Memória de Elefante “, de Os Dados Estão Lançados “. Questionamo-nos, no ” caminho ” trilhado. E sentimos a interrogação acompanhada de estar em Humanidade.
Um para-texto onde o indizível é tocado.
Obrigado Isabel. Brilhante e profundo o seu texto. Como sempre um teor filosófco que fascina. É tão reconfortante a sua presença neste espaço. A minha gratidão. Abraço grande
Que lindas viagens, maravilhosa a tua descrição! Que a tua Estrelinha te leve ao encontro dos teus sonhos! Amei! Um enorme abraço Poeta Jorge C Ferreira! Parabéns
Obrigado Claudina. A estrela que nos ilumina. Espero que ela te acompanhe. Que bom ter aqui a tua presença. Muito grato. Abraço grande
Obrigado Claudina. A estrela que nos ilumina. Espero que ela te acompanhe. Que bom ter aqui a tua presença. Muito grato. Abraço grande
Agora entendo.Deves ter visto o mundo ao contrário. Apreto, a branco, com sol e às escuras.Tens matéria para escrever e contat, sempre. Um programa na rádio, ao adormecer e nós a ouvirmos as histórias sem fim.
Fica me uma pergunta. Ficou algum canto no mundo aonde gogostarias ainda de ir?🚣♂️🚣♂️🚣♂️
Obrigado Fernanda. O avesso ddo mundo. Os lugares que nos fascinam. Nem calculas os sítios que ainda gostava de ir. Que bom estares neste nosso espaço. A minha imensa gratidão. Abraço enorme
Por entre o humor sempre contagiante de sorrisos agrado da fala de Isaurinda, o “retrato” de momentos vividos numa terra dita de sonho e longínqua, é uma excelente pintura em palavras de um estar, viver e reproduzir momentos ímpares.
Excelente traço de um contar via palavra, mas tão belo como se fosse ao natural um dizer apelativo dos passos geográficos do nosso viver, e do nosso recordar.
Islândia, um pedaço de ilhas , algumas com problemas de erupções , mas bela e convidativa.
Curioso tenho um familiar que trabalha na capital, e farta-se de dizer … apressa-te, vem cá, vais gostar!
Moral, com o teu “anúncio” retrato excelente, ganhei mais uns pontos de vontade, de por lá dizer presente.
Grande abraço, amigo que muito estimo e admiro.
Obrigado, José Luis, Poeta outonal. Gostei mujto do teu comentário. Apressa-te mesmo, vais adorar. A vida diferença. Uma paisagem única. A beleza da gente. Muito grato pela tua presença. Abraço grande